O silêncio voltou a cair. Começámos todos a olhar em volta, a tentar perceber o que tinha acontecido. Uns diziam que era trovoada, embora não houvesse uma única nuvem no céu, outros que tinha sido um foguete, apesar de estarmos muito longe da época das festas.
Já tínhamos quase todos voltado aos esconderijos e à espera, quando uma mulher deu grito. À frente dela, do outro lado do cemitério, repousando imperturbavelmente sobre o muro, encontrava-se uma cabra negra.
Esta saltou do seu poiso, porém, em vez de descer, começou a cavalgar pelo ar. Fez vários voos rasantes sobre as nossas cabeças, emitindo, não um bramido, mas um mio como o de um gato.
Flashes dispararam de todo o lado. Com as fotografias tiradas, os restantes curiosos, pelo menos aqueles que não fugiram mau a criatura apareceu, começaram a abandonar o cemitério.
Eu não. Escondi-me atrás de um mausoléu.
A cabra seguiu-os até aos carros e, assim que os viu partir, desapareceu atrás do muro do cemitério, para o terreno que pertencia ao Mosteiro de Tibães.
Fui atrás dela. Confesso que tive de subir para cima de uma campa, mas consegui saltar o muro.
Estava escuro, contudo, depois de passar tantas noite atrás de monstros, fadas e bruxas, os meus olhos estavam mais do que habituados, e conseguia ver sem grande esforço os caminhos por entre as hortas e vinhedos.
Avancei sem saber bem para onde ir, porém, alguns passos mais à frente, avistei o brilho distante de uma fogueira.